02/11/2004

Existem diferenças que não se explica

Um artigo de Mauri Alexandrino17 mil votos de diferença sempre encontram uma explicação plausível, ou "bene trovatta", mesmo quando não expressam a verdade inteira. 1700 votos nunca encontram nada. É o limbo, o domínio do imponderável. Diferenças tão pequenas são sempre órfãs de justificativas acadêmicas e análises dos cientistas políticos que andam em voga no momento. Talvez por isso haja neste momento esse sentimento contraditório em todas as pessoas que conheço e que se empenharam de corpo e alma nesta campanha de 2004: perdemos a eleição, mas, estranhamente, não nos sentimos derrotados. Nunca faltarão os que lamentarão que não se tenha percorrido mais duas ruas, que não se tenha jogado maior empenho aqui ou ali na cidade, mas todos os "ses" estarão longe da verdade. Outros argumentarão que foi o "uso da máquina" e que tal diferença se faz, por exemplo, sugerindo a funcionários municipais precários, contratados por tempo determinado, que perderão seus empregos em caso de uma derrota. Soa como explicação razoável, mas não justifica tudo em minha opinião. Diferenças assim se constroem com o que Nelson Rodrigues chamava de "sobrenatural de almeida". Foram, por exemplo, 200 pessoas que receberam uma carta de cobrança de dívidas atrasadas na sexta-feira e no inferno astral de um sábado com preocupações mais comezinhas que qualquer eleição e de uma noite mal dormida acordaram na manhã de domingo irritados e imbuídos da defesa fundamental dos desesperados: "político é tudo igual, ninguém resolve minha vida", e com esse sentimento de vingança, cravaram nulo. Ou mais 300 que acharam que a eleição estava decidida e foram viajar. Ou ainda 400 velhinhos do baile da terceira idade que acreditaram no maestro pago com dinheiro público que garantiu a eles que o baile, se a Telma ganhasse, babau, não tinha mais. Ou mais 200 casais que brigaram no sábado e no desânimo da crise doméstica desistiram de votar. Coisas, afinal, de somenos importância, como diziam os cronistas policiais de antigamente, é que fazem tão pequena diferença. Ou... O uso da máquina da prefeitura foi notável, mais que evidente. Foi mesmo patente muitas vezes. O Diário Oficial da cidade, por exemplo, nos últimos dois meses foi o competidor, com natural vantagem, do "Expresso do Futuro", o jornal de campanha da Telma. Só não viu quem não quis. Não discuto nem a pertinência nem a ilegitimidade que tal fato poderia representar. Apenas constato aqui como qualquer um poderá constatar consultando a coleção dos jornais. Isso já é história política. A campanha do PT foi bonita, redentora, competente. Nunca trabalhei num ambiente tão bom, tão colaborativo, tão sem estrelismos e defesas de espaços pessoais entre tantos profissionais de calibre. Nunca vi tanta gente boa se empenhando tanto - nos melhores momentos me lembrou os velhos tempos da redação do Cidade de Santos, ou, com mais propriedade, as três primeiras campanhas do PT na cidade. Não há em Santos, colaborador, militante ou adversário que discorde que foi uma campanha sem erros, bela e justa. Ao prefeito eleito, a quem desejo boa sorte, recomendo de boa vontade que preste atenção no resultado das urnas. Conheço Papa razoavelmente bem, bem como várias das pessoas que gravitaram em seu centro de decisão e, por conhecê-los, sei que passada a ressaca da comemoração, já terão observado que chegam agora à prefeitura com muito menos votos dados ao seu projeto, que os que foram dados contra o PT e Telma. O anti-petismo foi a chave de seu trabalho e empenho. Logo, a posição é volátil. Neste sentido, a chegada de Papa à Prefeitura se parece muito com a chegada de Telma em 1989: venceu a eleição, mas o poder está para ser conquistado e legitimado. A nós, os que perderam, resta o consolo de que somos metade da cidade. Literalmente a metade. Como disse Telma, "estamos de pé e inteiros". Fizemos o melhor que pudemos com os recursos que tínhamos. Um bom e íntegro trabalho, que nos orgulhará para sempre.

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