Imprensa regional destaca potencial da Bacia de Santos
Reportagem publicada hoje (15/09) no jornal "A Tribuna", de Santos, destaca, mais uma vez, o potencial energético de gás natural da Bacia de Santos. Hoje, já são produzidos 1.040.000 metros cúbicos do combustível por dia. No entanto, numa comparação com o que vem pela frente com a produção em outros pólos da Bacia de Santos, a plataforma de Mexilhão, que é o próximo a ser desenvolvido — com projeções para início de 2009 — será sete vezes maior que esta". afirma o jornal. Leia a íntegra abaixo."Merluza é pequena diante do potencial da Bacia de Santos
Christiane LourençoSubeditora Local
"A 200 quilômetros de Santos, na direção de Itanhaém, 36 pessoas vivem confinadas no meio do oceano, com o propósito exclusivo de produzir 1.040.000 metros cúbicos de gás natural por dia. Embarcados na plataforma de Merluza, da Petrobras, homens e mulheres passam 14 dias distantes da terra. Ali, onde o mar é de um azul intenso, dá para ter uma pequena idéia da importância da Bacia de Santos, estratégica para reduzir a dependência do Brasil do gás natural importado. "Merluza tem 14 anos de operação, trabalha hoje com 45% de sua capacidade e tem pelo menos mais seis anos de produção do gás que vem de reservatórios naturais encontrados em rochas a 5 mil metros de profundidade. "Ontem, A Tribuna esteve na plataforma, uma imensa estrutura de ferro construída para absorver a produção de seis poços de exploração. "Numa comparação com o que vem pela frente com a produção em outros pólos da Bacia de Santos, a plataforma de Mexilhão, que é o próximo a ser desenvolvido — com projeções para início de 2009 — será sete vezes maior que esta. "Os planos da companhia prevêem para Mexilhão uma superestrutura de 230 metros de altura, equivalente ao dobro de um edifício de 26 andares. Em Merluza, são três pisos, com uma altura estimada de 82 metros. "Além de Merluza, a Bacia de Santos também mantém outra plataforma já em funcionamento, a S-S-11, em frente ao litoral de Santa Catarina. O pólo Mexilhão fica a 146 quilômetros de Caraguatatuba e será responsável por produzir até 15 milhões de metros cúbicos/dia de gás a partir de 2011. Tecnologia "Marcos César Dolato, de 47 anos, gerente da plataforma de Merluza, é o responsável pelo serviço durante os 14 dias em que está embarcado. É a ele que funcionários da Petrobras e de empresas terceirizadas que compõem a equipe se dirigem para garantir desde o funcionamento do sistema de segurança, que aciona alarmes sob o mínimo sinal de vazamento, até o complexo processo de produção. "A plataforma é um amontoado de tubulações, tanques e dutos que correm por toda a estrutura e mergulham a uma profundidade de 140 metros (lâmina d’água) até o fundo do mar, de onde os seis poços (grandes tubulações) avançam mais cinco mil metros em busca das rochas arenitas, que são os reservatórios de gás natural. "Junto com o 1 milhão de metros cúbicos diários tirados da jazida vêm outros 200 metros cúbicos/dia do que eles chamam de condensado, um líquido que nada mais é do que um óleo leve, de excelente qualidade, usado na produção de combustíveis pela Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC). "A um custo mensal de US$ 1,5 milhão (R$ 3 milhões 750 mil), a estrutura de Merluza gera royalties de US$ 500 mil (R$ 1 milhão 250 mil) a cada mês, recursos divididos entre os municípios limítrofes com o pólo, segundo cálculos do IBGE e da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). "O negócio chamado petróleo é realmente milionário. Embora aqui não se esteja atrás do ouro negro, o gás natural também é muito valioso para o mercado de energia. Os planos da Petrobras para essa área incluem o investimento de US$ 2 bilhões (R$ 5 bilhões) apenas no desenvolvimento do pólo de Mexilhão.Lagosta "Ao longo dos 14 anos, os seis poços que ficam a 130 milhas de Itanhaém (200 quilômetros) somam uma produção de 6 bilhões e 200 milhões de metros cúbicos de gás. Mesmo com a possibilidade da extinção da jazida daqui a seis anos, a plataforma poderá ser mantida para operar o campo de Lagosta, a cinco quilômetros dali e com previsão de início para a partir de 2008. "O engenheiro Waldomiro Passos, gerente de operação de Merluza, fala de um incremento de até 600 mil metros cúbicos de gás natural e outros 200 metros cúbicos de condensado com a entrada em funcionamento de Lagosta. "Ainda assim, Merluza continuará operando com capacidade reduzida, já que sua estrutura permitiria o processamento de mais de 2,2 milhões de metros cúbicos diários.
Saiba mais
"As plataformas de produção de petróleo funcionam também como recifes artificiais e atraem cardumes de peixes, tubarões e até baleias. Em Merluza, golfinhos também são bastante comuns. O que é proibido, no entanto, é a pesca e a presença de barcos a menos de 500 metros da estrutura, o que nem sempre é respeitado. As espécies mais comuns são atuns, cavalas, dourados, bonitos, namorados, cações e até o imenso tubarão-baleia. A presença de barcos de pesca em área proibida é comunicada à Capitania dos Portos.
Mulheres conquistam espaço
"As mulheres conquistaram espaço dentro das plataformas. Nesta quinzena, duas delas permanecerão em Merluza até a próxima terça-feira. A nutricionista Paula Grace, 30 anos, moradora de Botafogo, no Rio de Janeiro, e a rádio-operadora Adriane de Fátima Fernandes, 28, de Guarapoava, a 300 quilômetros de Curitiba (PR), vivenciam as dificuldades do confinamento, aumentadas pela saudade da família, de namorados, noivos ou maridos. "Nas equipes de Merluza há ainda outras cinco mulheres, nenhuma em área de operação, embora isso seja comum na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. "De macacão laranja, botas de couro e outros equipamentos de segurança, elas não se sentem intimidadas e chegam a dividir as mesmas cabines de dormir com companheiros. Cada cama é separada da outra por cortinas. Geralmente as cabines têm quatro leitos. No total, a estrutura tem acomodações para 40 pessoas. "Lá, saia e maquiagem não têm sentido. Por não executarem funções na área, as duas praticamente passam os dias na ala interna. ‘‘Evito ir lá fora o máximo que posso para não lembrar que estou aqui dentro, longe de tudo, cercada por mar’’, comenta Paula, que leva, em média, nove horas para chegar em casa depois de desembarcar em Itanhaém, de onde partem e chegam os vôos de helicóptero que transportam os embarcados da Petrobras. A distinção entre dia útil e final de semana só se dá aos domingos, quando acontece um churrasco. ‘‘Organicamente sabemos que é sábado, mas temos atividades normais de trabalho’’. O acesso à internet amenizou a falta dos familiares e amigos. O telefone também é um modo de contato com o mundo externo. Ainda assim, à noite, às vezes, lágrimas brotam como sinal da saudade. "Noiva, Adriane pensa em casar no próximo ano, quando continuará a ter como casa a cada 14 dias o quarto que divide com os colegas de plataforma.
Carreira exige especialização
"Aos 22 anos, Bernardo de Almeida Tardin é o mais novo operador da Petrobras embarcado em Merluza. Ele é um exemplo da carreira que vem se consolidando em cima do negócio petróleo e gás natural. Nos 21 dias que fica em casa, em Vitória (ES), ele cursa faculdade de Engenharia de Petróleo. Na plataforma, ele é responsável pela leitura de pressão do gás que vem do fundo do mar, da temperatura e da manutenção dos complexos equipamentos, a maioria automatizada e controlada pelos computadores. "Em Santos, já há cursos de capacitação no Senai, que adaptou as grades de cursos técnicos e de aprendizagem industrial nas áreas de instrumentação e controle de processos, operador de processos químicos e petroquímicos, eletrônica, informática, mecânica de manutenção, solda e caldeira. Todas essas funções são usadas em Merluza, onde a maioria da mão-de-obra — apesar de muito qualificada — é de nível médio. As universidades também têm cursos na área de petróleo, entre elas a UniSantos e a Unisanta. ‘‘Eu estou focado na Petrobras. Quero ser engenheiro. A faculdade amplia o campo de atuação, que vai além do petróleo, falamos de energia’’, completa Tardin, que dedica suas horas de folga durante o período de confinamento às atividades na academia de musculação. "Emerson Luiz Santos Almeida, técnico em enfermagem, está há dois meses contratado como prestador de serviços em Merluza. Ele garante que a remuneração é o dobro do que a média de mercado. O grande diferencial é a exigência de capacitação contínua. Antes de embarcar pela primeira vez, ele já havia feito quatro cursos e quando sair do confinamento, na próxima terça-feira, depois de duas semanas de serviço, fará outros três.Vida em alto-mar "Há 19 anos, trabalhando embarcado em plataformas, o gerente Marcos Dolato diz que não se acostumaria mais a trabalhar em horário comercial, de segunda a sexta-feira. ‘‘A equipe a bordo é uma família. Passamos 24 horas juntos, no trabalho, nas refeições e nas horas de lazer’’. Dolato, que já passou Natal, Réveillon e até aniversários dos filhos embarcado, tem um modo especial de ver os dias no meio do oceano: ‘‘A gente presencia coisas que não se vê da terra, com o pôr-do-sol que é fantástico, até uma baleia com seu filhote que vive aqui no entorno da plataforma’’. "Às vésperas de completar 48 anos, Dolato fala da alta capacitação dos funcionários. Aliás, essa é uma dica para quem pensa em aproveitar o potencial de novos empregos que vem com o incremento das atividades na Bacia de Santos. Na produção do gás natural, além de operadores, técnicos em manutenção, eletricistas, mecânicos, instrumentistas, há também funções como de rádio-operador, de taifeiros (auxiliar de cozinha e limpeza) e até de nutricionista."
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