26/09/2005

Homenagem a Souza Dantas atrai grande público

“O resgate do passado só se justifica se nos servir de inspiração para compreendermos e tornarmos melhor o presente", afirmou a deputada federal Telma de Souza (PT-SP), ao dar início à sessão solene que marcou a homenagem póstuma ao diplomata Luiz Martins de Souza Dantas, ontem pela manhã, na Câmara Federal, em Brasília. Perante uma platéia lotada, Telma de Souza fez um breve relato sobre a trajetória de Souza Dantas, explicando que o diplomata respondeu pela embaixada brasileira na França entre 1922 e 1944. A ocupação alemã do território francês coincidiu com a vigência no Estado Novo de Getúlio Vargas no Brasil. Vargas governava o país com poderes ditatoriais e, no início do conflito mundial, não escondia sua simpatia pelas nazi-fascismo. "Em circulares internas e classificadas como ´secretas´, o Estado Novo vetava a imigração de judeus e nipônicos, discriminando também supostos comunistas e homossexuais. Estava em vigor uma política claramente fascista, em que o termo ´branqueamento da raça´ era utilizado com freqüência pelas autoridades brasileiras. O diplomata, porém, desafiando a proibição do Governo Vargas, assinou centenas de vistos de entrada no Brasil, beneficiando não só judeus, mas muitas outras pessoas perseguidas pelo nazismo", destacou a deputada, acrescentando que, pouco tempo depois, em represália, o diplomata foi aposentando compulsoriamente, mas permaneceu no cargo devido à dificuldade de se arrumar um substituto em tempos de guerra. Souza Dantas acabou sendo preso pelos nazistas, em Paris, e levado para a Alemanha, só sendo solto após uma troca com prisioneiros alemães que se encontravam no Brasil, depois que o país finalmente resolveu apoiar os aliados. Segundo Telma de Souza, o Itamaraty lembrou de Souza Dantas ao final da guerra e o convidou para chefiar a delegação brasileira na abertura da primeira Assembléia Geral das Nações Unidas, realizada em Londres entre 10 de janeiro e 14 de fevereiro de 1946. O diplomata foi, porém, relegado ao mais completo ostracismo depois disso, até sua morte, em 1954. Nas décadas seguintes, Souza Dantas, bem como a sua atuação diplomática, continuaram no esquecimento. "Só agora, o livro ´Quixote nas Trevas´, do historiador Fábio Koifman, começa a preencher essa absurda lacuna, determinando também a inscrição do nome de Souza Dantas no Jardim dos Justos, em Israel, homenagem outorgada àqueles que arriscaram suas vidas para ajudar as vítimas do Holocausto", prosseguiu a deputada, lembrando que a atuação do diplomata é, com freqüência, comparada a do industrial alemão Oskar Schindler, que teve sua vida contada no cinema em "A Lista de Schindler", filme de Steven Spielberg. "Nesta pequena homenagem, estamos resgatando um pouco do reconhecimento que Souza Dantas merece. Espero que esta iniciativa, que não é minha, mas do Parlamento brasileiro e de todas as pessoas interessadas em tornar esse resgate possível, se reproduza e amplie", concluiu Telma de Souza.

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